segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Os sistemas

Sempre tenho o hábito de ler as revistas semanais nas manhãs dos domingos. Cabeça fresca, sem opções interessantes de programas na TV (sejam abertas ou por assinatura) e um ótimo momento para rever o que aconteceu na semana. Hoje não foi diferente.

Sou assinante da Veja, que ainda considero uma das melhores, apesar da grande quantidade de propaganda que têm aparecido nos últimos tempos. Começo pelas entrevistas nas páginas amarelas, que sempre são uma incógnita. Já encontrei personagens simplesmente dispensáveis a pessoas que realmente tem coisas inteligentes e interessantes a falar. Hoje, ainda bem, tive uma grata surpresa.

A entrevista foi com Luiz Fernando Corrêa, novo Diretor da Polícia Federal. Não vou entrar agora na discussão de se sua indicação foi política ou não, pois só o tempo vai nos mostrar e eu sou um ardoroso defensor a dar tempo para as pessoas mostrarem o que falam. Tenho a tendência a confiar antes de desconfiar. Além disso, fiquei positivamente impressionado com alguns comentários do sr. Luiz. Gostaria de falar um pouco sobre eles e escutar o que vocês acham.

Em primeiro lugar, li algo com o qual sempre concordei e sempre comentei. A corrupção é um dos principais problemas brasileiros. Muito mais do que saúde, educação, infraestrutura ou mesmo segurança, sempre acreditei que a corrupção seja a origem de tudo. Talvez a única área governamental que tenha tal relevência seja a educação, mas isso é tema para outro texto. Falando da corrupção, sempre defendi que a partir da corrupção, construimos boa parte dos problemas brasileiros. A corrupção faz com que a enorme carga tributária que pagamos no Brasil não chegue ao seu destino. O problema do Brasil não é falta de dinheiro para fazer as coisas, mas não ter o dinheiro no lugar correto e no momento correto.

Em uma de suas frases, o sr. Luiz coloca que se somarmos o prejuízo de todos os furtos e roubos de todo um ano em uma determinada região, esse total será menor do que o prejuízo causado pela corrupção no mesmo local. Isso faz com que tenhamos que repensar a atuação de todas as organizações de segurança pública. Coibir o assaltante e traficante é importante ? Sem dúvidas ! Entretanto é igualmente importante combater ferozmente os devoradores de dinheiro público. Não é só o Renan, que é um exemplo do topo da cadeia alimentar. A grande questão, na minha opinião, é combater o sistema e não só as pessoas. As pessoas chegam e se vão. Nascem e morrem. Os sistemas, entretanto, são eternos.

Já pensaram no porquê de toda a burocracia que temos no país ? Burocracia é igual a oportunidades para levar vantagens. Quanto mais lento for o tempo para se abrir uma empresa, mais gente disposta a usar os caminhos "alternativos" encontraremos. Quanto mais difícil for licenciar o seu carro em um Detran desse Brasil, mas gente disposta a pagar por aceleradores encontraremos. Isso cria o sistema. Nós criamos os sistemas. Os sistemas crescem. Os sietmas se sofisticam. Os sistemas envolvem gente mais importante. E, finalmente, os sistemas se tornam mais difíceis de serem derrubados. E aí, nós reclamamos dos sistemas.

Seria injusto colocar a culpa dos sistemas em um ou outro Governo, pois levam-se vários anos para eles se enraízarem. Entretanto, podemos analisar um Governo pela forma como ele combate os sistemas. Por esse motivo, acho extremamente importante estarmos atentos a como os órgãos de combate e repressão aos sistemas são compostos e funcionam. Se o sr. Luiz conseguir isolar a Polícia Federal das pressões políticas e chantagens baratas dos sistemas, estaremos dando um grande passo no seu combate em um Governo que, até agora, se mostrou incapaz de combatê-los e muito bom em criá-los.

Entretanto, é fundamental que a sociedade civil não ajude a criar novos sistemas. Já está batido o lema de que não existe corrupto sem corruptor. Também sabemos que não existe traficante sem usuário. Da mesma forma, não vão existir sistemas se nós não os construirmos.

Vou voltar nessa entrevista nos próximos tópicos, pois existem muitos conceitos interessantes que podemos trabalhar. Um forte abraço a todos que chegaram até o final desse texto.

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