segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Polícia para quem precisa

Continuando a comentar a entrevista desse último domingo publicada na Veja do sr. Luiz Fernando Corrêa, voltei à uma velha pergunta que já tinha feito a mim mesmo algumas outras vezes: será que temos pouco efetivo policial ou usamos mal o que temos ?

Na minha opinião, a resposta para essa pergunta é a mesma sobre a questão dos impostos no Brasil. Acho que usamos mal o que temos. Há algum tempo atrás, fiz um trabalho piloto para levar informações à Polícia Militar do DF. Uma das maiores dificuldades era a integração de informações disponíveis. Quando começamos a juntar os dados, conseguíamos enxergar que nem sempre é necessária a presença ostensiva da polícia em um determinado local para diminuir a incidência de crimes.

Um caso que me surpreendeu e que foi abordado pelo sr. Luiz na seu entrevista fala de iluminação pública. Era impressionante notar como em locais com uma simples lâmpada queimada o aumento da criminalidade era quase imediato. Uma vez, um policial me comentou que bandido é igual a vampiro e morcego: odeia luz.

Esse fato me faz pensar em quantas outras iniciativas simples e de baixíssimo custo podem ser realizadas para efetivamente diminuirmos a criminalidade no país. Acredito, sinceramente, que se boas idéias e iniciativas locais, muitas vezes com a sociedade civil à frente, forem compartilhadas e patrocinadas pelo Estado, poderíamos deixar a polícia se focar nos casos mais graves. Se você não deixa o seu filho quebrar uma lâmpada ou um orelhão na rua, tenha certeza que está contibuindo para a redução de violência, pois a luz vai estar lá para expor o bandido e, no caso de um crime consumado, o orelhão vai estar lá para rapidamente chamar a polícia, o que aumenta muito as chances de pegá-lo.

Nos acostumamos a deixar a questão de segurança totalmente a cargo do Estado, entretanto, temos que tomar a frente. Cada um na sua área de atuação, cada um com pequenos gestos. Vamos aplicar antes o que Nova Iorque fez na política de tolerância zero. Vamos começar a coibir as ações que levam aos pequenos delitos. Dessa forma, nem precisaremos da polícia para coibir. Nós não devemos deixar nossos filhos picharem, quebrarem vidros, lâmpadas, orelhões, placas de sinalização de trânsito, etc. Nós podemos fazer isso. Por que acomodar-nos ?

Isso não tira a obrigação da polícia agir. Agir com rigor e sem violência. Agir corretamente. Essa ação, vamos ter que cobrar sempre.

Depois falam que é mentira...

Cheguei no trabalho e fui dar uma passada nas notícias... apesar de estar em SP há 8 anos, ainda cultivo o hábito de ler O Globo na internet. Além das notícias dos times de futebol carioca, me dá muito mais conteúdo para escrever aqui. Hoje, mais uma notícia sobre as milícias.

Depois de pequenos subornos em multas e pequenas infrações, fomos para o arrego do bicho, arrego do tráfico e agora (ou sempre, mas só agora sabemos), proteção. Parece que a polícia sempre quer arrumar algo para fazer. Algo que não seja o que eles são pagos para fazer.

Concordo com as questões salariais, etc e tal. Entretanto, vale a mesma lógica que falava na questão dos controladores de vôo: sempre foi assim. Ninguém entrou para a polícia achando que ia fazer fortuna. Ou entrou por vocação ou por necessidade. Não adianta usar esse argumento como justificativa para praticar crimes. Aliás, argumento por argumento, sou mais o do pai de família que furta no supermercado para alimentar os filhos.

Quando leio sobre as milícias, me lembro dos bons filmes da máfia italiana e depois da máfia japonesa que passavam na televisão. Achávamos isso tão longe da gente... máfias. Pois bem... eis que as máfias estão muito mais próximas do que imaginávamos. A verdadeira máfia brasileira.

Vendo ontem a reportagem sobre o filme Tropa de Elite e vendo outros comentários, entendo que o filme passa a imagem de uma polícia dentro da polícia. Uma polícia que despreza a corrupção e as atividades ilegais. Torturam, não duvido. Matam, não duvido. Entretanto, não precisariam fazer isso se a polícia fizesse o seu trabalho. Será que eles se acham como o onipotente Renan Calheiros ? A grande verdade é que a polícia já não tem mais medo de quase nada. Apenas de não continuar a ganhar dinheiro nos esquemas.

Como querem fazer que acreditemos que é mentira, com tanta prova, tanta evidência. Acho que se espelham lá em Brasília... depois querem dizer que é mentira.

Os sistemas

Sempre tenho o hábito de ler as revistas semanais nas manhãs dos domingos. Cabeça fresca, sem opções interessantes de programas na TV (sejam abertas ou por assinatura) e um ótimo momento para rever o que aconteceu na semana. Hoje não foi diferente.

Sou assinante da Veja, que ainda considero uma das melhores, apesar da grande quantidade de propaganda que têm aparecido nos últimos tempos. Começo pelas entrevistas nas páginas amarelas, que sempre são uma incógnita. Já encontrei personagens simplesmente dispensáveis a pessoas que realmente tem coisas inteligentes e interessantes a falar. Hoje, ainda bem, tive uma grata surpresa.

A entrevista foi com Luiz Fernando Corrêa, novo Diretor da Polícia Federal. Não vou entrar agora na discussão de se sua indicação foi política ou não, pois só o tempo vai nos mostrar e eu sou um ardoroso defensor a dar tempo para as pessoas mostrarem o que falam. Tenho a tendência a confiar antes de desconfiar. Além disso, fiquei positivamente impressionado com alguns comentários do sr. Luiz. Gostaria de falar um pouco sobre eles e escutar o que vocês acham.

Em primeiro lugar, li algo com o qual sempre concordei e sempre comentei. A corrupção é um dos principais problemas brasileiros. Muito mais do que saúde, educação, infraestrutura ou mesmo segurança, sempre acreditei que a corrupção seja a origem de tudo. Talvez a única área governamental que tenha tal relevência seja a educação, mas isso é tema para outro texto. Falando da corrupção, sempre defendi que a partir da corrupção, construimos boa parte dos problemas brasileiros. A corrupção faz com que a enorme carga tributária que pagamos no Brasil não chegue ao seu destino. O problema do Brasil não é falta de dinheiro para fazer as coisas, mas não ter o dinheiro no lugar correto e no momento correto.

Em uma de suas frases, o sr. Luiz coloca que se somarmos o prejuízo de todos os furtos e roubos de todo um ano em uma determinada região, esse total será menor do que o prejuízo causado pela corrupção no mesmo local. Isso faz com que tenhamos que repensar a atuação de todas as organizações de segurança pública. Coibir o assaltante e traficante é importante ? Sem dúvidas ! Entretanto é igualmente importante combater ferozmente os devoradores de dinheiro público. Não é só o Renan, que é um exemplo do topo da cadeia alimentar. A grande questão, na minha opinião, é combater o sistema e não só as pessoas. As pessoas chegam e se vão. Nascem e morrem. Os sistemas, entretanto, são eternos.

Já pensaram no porquê de toda a burocracia que temos no país ? Burocracia é igual a oportunidades para levar vantagens. Quanto mais lento for o tempo para se abrir uma empresa, mais gente disposta a usar os caminhos "alternativos" encontraremos. Quanto mais difícil for licenciar o seu carro em um Detran desse Brasil, mas gente disposta a pagar por aceleradores encontraremos. Isso cria o sistema. Nós criamos os sistemas. Os sistemas crescem. Os sietmas se sofisticam. Os sistemas envolvem gente mais importante. E, finalmente, os sistemas se tornam mais difíceis de serem derrubados. E aí, nós reclamamos dos sistemas.

Seria injusto colocar a culpa dos sistemas em um ou outro Governo, pois levam-se vários anos para eles se enraízarem. Entretanto, podemos analisar um Governo pela forma como ele combate os sistemas. Por esse motivo, acho extremamente importante estarmos atentos a como os órgãos de combate e repressão aos sistemas são compostos e funcionam. Se o sr. Luiz conseguir isolar a Polícia Federal das pressões políticas e chantagens baratas dos sistemas, estaremos dando um grande passo no seu combate em um Governo que, até agora, se mostrou incapaz de combatê-los e muito bom em criá-los.

Entretanto, é fundamental que a sociedade civil não ajude a criar novos sistemas. Já está batido o lema de que não existe corrupto sem corruptor. Também sabemos que não existe traficante sem usuário. Da mesma forma, não vão existir sistemas se nós não os construirmos.

Vou voltar nessa entrevista nos próximos tópicos, pois existem muitos conceitos interessantes que podemos trabalhar. Um forte abraço a todos que chegaram até o final desse texto.